Decepção

Estava na Hungria, mais precisamente em Budapeste (onde há a maior concentração de antipáticos do mundo), quando, em meio a uma névoa formada pelos sete graus negativos, eu avisto um cartaz. Lá pairava Aida. Arrastei então minha adorável e compreensível irmã para o teatro. Antes disso, porém, cultivei nela a maior expectativa que um ser humano pode ter e, é claro, a fiz gastar sofridos euros para conseguir o melhor lugar.
Pronto! E estávamos nós coladas no palco. Para ver o espetáculo tínhamos que dar aquela leve deslizada na cadeira. As luzes se apagaram e não posso negar que meu coração deu uma acelerada.
Quando a cortina abre alguma coisa parece estar errado. Não foi preciso deslizar um centímetro sequer para perceber que o cenário tinha detalhes quebrados do adorável isopor que o compunha. Eis que surge no palco, aquilo que os húngaros denominam de ator, que na minha concepção não passava de um péssimo cantor de opera com expressões que nem mesmo beiravam a canastrice. Depois de ter absorvido isso, eu cheguei a brilhante conclusão de que ele era o mocinho da peça. Eu gostaria de dar uma prévia de como ele era fisicamente, mas não vou causar esse trauma em vocês. Acho que podem imaginar como era o resto do elenco. A protagonista até chegava à categoria de canastrão. E isso tudo em italiano... E com legenda em húngaro!
Vocês podem imaginar até onde eu escorreguei na cadeira, na hora do intervalo, para não precisar olhar a minha irmã. Quando ainda estava no breu, eu estava no meio da minha oração, quando comecei a acreditar que por sorte eu tinha desaparecido, a luz acendeu e minha irmã já estava com todas as palavras da bronca decoradas (pelo menos ela teve uma distração durante a peça).
Com uma paciência, que não lhe é característica, sugeriu que nos retirássemos do teatro. Nesse momento eu cometi mais um erro, talvez o pior: tive esperança que pudesse mudar. Ficamos. E depois dessa experiência fui escrava das vontades da minha irmã pro resto da viagem (quiçá da vida!) e com razão.
Mas calma! Se você ignorar o mal-humor, a ignorância, a impossibilidade de comunicação, o frio de matar e os péssimos atores; Budapeste é linda.
Texto desengavetado por Flavia B.