novembro 25, 2009

Um Paul Éluard


"É um livro incandescente estes Últimos poemas de amor, ardente de amor, consumido de desejo, perseguindo a chama, se for preciso, para além da morte nas cinzas vivas. Poesia sempre pronta aos beijos que ressuscitam, o canto de Éluard, desde suas origens, levanta-se obstinadamente sobre a ruína do mundo - solidão, desespero, pobreza - seu conjunto de imagens carnais, cintilantes."
Do prefácio de Jean-Pierre Siméon

"Éluard afirmava: "Os poemas sempre têm grandes margens brancas, grandes margens de silêncio, onde a memória ardente se consome para recriar um delírio sem passado". É por isso que esta poesia tem uma vocação inaugural. Ela (re)instaura uma ligação "primeira" da consciência com o mundo, por uma linguagem compreendida como matéria de criação; nesse sentido, Éluard prolonga a ambição de Rimbaud de uma poesia que estaria "à frente", como uma promessa de vida futura."
Do posfácio de Daniel Bergez

Maria Elvira e Gilson são tios queridos que um dia traduziram um punhado de poemas de Paul Éluard. E mais outro punhado depois. E outro e outro. Graças ao casal que vive junto há 62 anos, escrevi o curta 1468973512: O espelho de um momento. E graças a eles poderemos reler Éluard.
Então obrigado.

agosto 30, 2009

Cabo Frio de chuva

Dia 8 de setembro, às 21h, no Teatro Municipal de Cabo Frio vai passar o curta "1468973512: O Espelho de um Momento". O site climatempo já disse que é chuva o dia inteiro.
Boa desculpa para ir ao cinema, não acha?

julho 12, 2009

Andando pela livraria de Nelson Bond

"Me falta um pedaço dessa unha, mas descobri hoje cedo que não é só esse o pedaço que me falta."

Fragmento do livro não-escrito "O homem que se desmancha"

abril 25, 2009

Estão-nos mentindo sobre os piratas


5/1/2009, Johann Hari: The Independent, UK

Quem imaginaria que em 2009, os governos do mundo declarariam uma nova Guerra aos Piratas? No instante em que você lê esse artigo, a Marinha Real Inglesa - e navios de mais 12 nações, dos EUA à China - navega rumo aos mares da Somália, para capturar homens que ainda vemos como vilãos de pantomima, com papagaio no ombro. Mais algumas horas e estarão bombardeando navios e, em seguida, perseguirão os piratas em terra, na terra de um dos países mais miseráveis do planeta. Por trás dessa estranha história de fantasia, há um escândalo muito real e jamais contado. Os miseráveis que os governos 'ocidentais' estão rotulando como "uma das maiores ameaças de nosso tempo" têm uma história extraordinária a contar - e, se não têm toda a razão, têm pelo menos muita razão.
Os piratas jamais foram exatamente o que pensamos que fossem. Na "era de ouro dos piratas" - de 1650 a 1730 - o governo b ritânico criou, como recurso de propaganda, a imagem do pirata selvagem, sem propósito, o Barba Azul que ainda sobrevive. Muita gente sempre soube disso e muitos sempre suspeitaram da farsa: afinal, os piratas foram muitas vezes salvos das galés, nos braços de multidões que os defendiam e apoiavam. Por quê? O que os pobres sabiam, que nunca soubemos? O que viam, que nós não vemos? Em seu livro Villains Of All Nations, o historiador Marcus Rediker começa a revelar segredos muito interessantes.
Se você fosse mercador ou marinheiro empregado nos navios mercantes naqueles dias se vivesse nas docas do East End de Londres, se fosse jovem e vivesse faminto-, você fatalmente acabaria embarcado num inferno flutuante, de grandes velas. Teria de trabalhar sem descanso, sempre faminto e sem dormir. E, se se rebelasse, lá estavam o todo-poderoso comandante e seu chicote [ing. the Cat O' Nine Tails, lit. "o Gato de nove rabos"]. Se você insistisse, era a prancha e os tubarões. E ao final de meses ou anos dessa vida, seu salário quase sempre lhe era roubado.
Os piratas foram os primeiros que se rebelaram contra esse mundo. Amotinavam-se nos navios e acabaram por criar um modo diferente de trabalhar nos mares do mundo. Com os motins, conseguiam apropriar-se dos navios; depois, os piratas elegiam seus capitães e comandantes, e todas as decisões eram tomadas coletivamente; e aboliram a tortura. Os butins eram partilhados entre todos, solução que, nas palavras de Rediker, foi "um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século 18 ".
Acolhiam a bordo, como iguais, muitos escravos africanos foragidos. Os piratas mostraram "muito claramente- e muito subversivamente- que os navios não precisavam ser comandados com opressão e brutalidade, como fazia a Marinha Real Inglesa." Por isso eram vistos como heróis românticos, embora sempre fossem ladrões improdutivo s.
As palavras de um pirata cuja voz perde-se no tempo, um jovem inglês chamado William Scott, volta a ecoar hoje, nessa pirataria new age que está em todas as televisões e jornais do planeta. Pouco antes de ser enforcado em Charleston, Carolina do Sul, Scott disse: "O que fiz, fiz para não morrer. Não encontrei outra saída, além da pirataria, para sobreviver".
O governo da Somália entrou em colapso em 1991. Nove milhões de somalianos passam fome desde então. E todos e tudo o que há de pior no mundo ocidental rapidamente viu, nessa desgraça, a oportunidade para assaltar o país e roubar de lá o que houvesse. Ao mesmo tempo, viram nos mares da Somália o local ideal onde jogar todo o lixo nuclear do planeta.
Exatamente isso: lixo atômico. Nem bem o governo desfez-se (e os ricos partiram), começaram a aparecer misteriosos navios europeus no litoral da Somália, que jogavam ao mar contêineres e barris enormes. A população litorânea c omeçou a adoecer. No começo, erupções de pele, náuseas e bebês malformados. Então, com o tsunami de 2005, centenas de barris enferrujados e com vazamentos apareceram em diferentes pontos do litoral. Muita gente apresentou sintomas de contaminação por radiação e houve 300 mortes.
Quem conta é Ahmedou Ould-Abdallah, enviado da ONU à Somália: "Alguém está jogando lixo atômico no litoral da Somália. E chumbo e metais pesados, cádmio, mercúrio, encontram-se praticamente todos." Parte do que se pode rastrear leva diretamente a hospitais e indústrias européias que, ao que tudo indica, entrega os resíduos tóxicos à Máfia, que se encarrega de "descarregá-los" e cobra barato. Quando perguntei a Ould-Abdallah o que os governos europeus estariam fazendo para combater esse 'negócio', ele suspirou: "Nada. Não há nem descontaminação, nem compensação, nem prevenção."
Ao mesmo tempo, outros navios europeus vivem de pilhar os mares da Somália, a tacando uma de suas principais riquezas: pescado. A Europa já destruiu seus estoques naturais de pescado pela superexploração - e, agora, está superexplorando os mares da Somália. A cada ano, saem de lá mais de 300 milhões de atum, camarão e lagosta; são roubados anualmente, por pesqueiros ilegais. Os pescadores locais tradicionais passam fome.
Mohammed Hussein, pescador que vive em Marka, cidade a 100 quilômetros ao sul de Mogadishu, declarou à Agência Reuters: "Se nada for feito, acabarão com todo o pescado de todo o litoral da Somália."
Esse é o contexto do qual nasceram os "piratas" somalianos. São pescadores somalianos, que capturam barcos, como tentativa de assustar e dissuadir os grandes pesqueiros; ou, pelo menos, como meio de extrair deles alguma espécie de compensação.
Os somalianos chamam-se "Guarda Costeira Voluntária da Somália". A maioria dos somalianos os conhecem sob essa designação. [Matéria importante sobre isso, em http://wardheernews.com/Articles_09/April/13_armada_not_solution_muuse.html : "The Armada is not a solution".] Pesquisa divulgada pelo site somaliano independente WardheerNews informa que 70% dos somalianos "aprovam firmemente a pirataria como forma de defesa nacional".
Claro que nada justifica a prática de fazer reféns. Claro, também, que há gângsteres misturados nessa luta - por exemplo, os que assaltaram os carregamentos de comida do World Food Programme. Mas em entrevista por telefone, um dos líderes dos piratas, Sugule Ali disse: "Não somos bandidos do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam nosso peixe." William Scott entenderia perfeitamente.
Por que os europeus supõem que os somalianos deveriam deixar-se matar de fome passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistir passivamente os pe squeiros europeus (dentre outros) que pescam o peixe que, depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores reagiram e intrometeram-se no caminho pelo qual passa 20% do petróleo do mundo... imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra.
A história da guerra contra a pirataria em 2009 está muito mais claramente narrada por outro pirata, que viveu e morreu no século 4º AC. Foi preso e levado à presença de Alexandre, o Grande, que lhe perguntou "o que pretendia, fazendo-se de senhor dos mares." O pirata riu e respondeu: "O mesmo que você, fazendo-se de senhor das terras; mas, porque meu navio é pequeno, sou chamado de ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é chamado de imperador." Hoje, outra vez, a grande frota européia lança-se ao mar, rumo à Somália - mas... quem é o ladrão?

http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/johann-hari/johann-hari-you-are-being-lied-to-about-pirates-1225817.html


Enviado por um Camarada.

abril 06, 2009

Alguma coisa acontece no meu coração

Um dia eu escrevi um roteiro e resolvi filmá-lo com a ajuda de vários amigos que toparam acordar mais cedo em um domingo. Fico muito feliz em saber que este mesmo curta "1468973512: O Espelho de um momento" foi selecionado para a Mostra Competitiva do Festival Cinema do Coração, que acontecerá em São Paulo, entre os dias 13 e 16 de abril.

A exibição será no dia 15, a partir das 21h30, no Cine Reserva Cultural (Av. Paulista, 900), e a programação completa do festival pode ser acessada através do link http://www.planetatela.com.br/festival/programacao.html


1468973512: O Espelho de um Momento Direção: João Felipe Freitas Sinopse: O poeta Paul Éluard morreu em 1952, vítima de uma doença cardíaca. Esse foi seu último delírio.



Ficha Técnica Direção - João Felipe Freitas
Fotografia - Guga Millet
Som - Benhur Machado
Assistência de Som - Edil Andrade
Produção e Sill - Paula Lagoeiro
Produção Executiva - Tiago Campany

Elenco
Homem de Pijama - Xande Alves
Homem de Terno - Rafael Maia


15 de abril, quarta-feira - 21:30 horas

MOSTRA COMPETITIVA - I FESTIVAL CINEMA DO CORAÇÃO

COR
Adriana Barata
17 minutos
Minas Gerais

Suspenso
Felipe Sabugosa
8 minutos
Rio de Janeiro

De Peito Aberto
Nair Farias
1 minuto
Rio Grande do Sul

Pelo Ouvido
Joaquim Haickel
18 minutos
Maranhão

1468973512: O Espelho de um Momento
João Felipe Freitas
5 minutos
Rio de Janeiro

Quando o Universo Conspira
Caio Bortolotti
15 minutos
Rio de Janeiro

X-Coração
Lisandro Santos
12 minutos
Rio Grande do Sul

fevereiro 15, 2008

Um post para maio


Era para ser um ano comum. Ninguém poderia prever que seria diferente. Mas 1968 começou com uma certa agitação no ar. Já tínhamos Sartre, Levi-Strauss, Foucault, Lacan e Barthes sendo discutidos nas universidades. Num instante, bum!, o furacão juvenil virou todo o país de pernas pro ar. Aqueles jovens queriam o que afinal? Na época ninguém sabia ao certo. Estavam descontentes e isso já era o bastante. Nos muros o alerta: Cours camarade, le vieux monde est derrière toi!
Se frustração e faltas de perspectivas podem motivar novos sessenta e oitos, teremos mais um ano conturbado. No filme Le pornographe (O pornógrafo, 2001) de Bertrand Bonello, os personagens acreditam que havia certo romantismo quando as pessoas iam às ruas em 68. A imaginação podia chegar ao poder. Os jovens recusavam a sociedade tal como era, os velhos símbolos, o trabalho. Hoje, protestamos pelo contrário: para trabalhar, ser reconhecido pela sociedade. É uma ironia terrível.
O filme não é sobre maio de 68. Jacques Laurent, interpretado pelo genial Jean-Pierre Léaud (Os Incompreendidos, Beijos Roubados, Noite Americana e mais uma caralhada), é um antigo diretor de filmes pornográficos dos anos 60 e 70. Por questões financeiras, retorna aos sets de filmagem e percebe, apesar de não compreender, como a indústria pornô mudou. Com problemas de relacionamento com seu filho, o velho pornógrafo ainda sustenta utopias bambas e parece não mais entender o mundo. O conflito de gerações é mais do que mero recurso dramático; é um comentário histórico. Então, de certa forma, o filme relaciona o nosso tempo com a velha geração de 1968? Bem, eu não vou me contradizer na frente de todo mundo.

A pornstar Ovidie também está no filme.
Fazendo o quê?
Você sabe.