Um post para maio
Era para ser um ano comum. Ninguém poderia prever que seria diferente. Mas 1968 começou com uma certa agitação no ar. Já tínhamos Sartre, Levi-Strauss, Foucault, Lacan e Barthes sendo discutidos nas universidades. Num instante, bum!, o furacão juvenil virou todo o país de pernas pro ar. Aqueles jovens queriam o que afinal? Na época ninguém sabia ao certo. Estavam descontentes e isso já era o bastante. Nos muros o alerta: Cours camarade, le vieux monde est derrière toi!
Se frustração e faltas de perspectivas podem motivar novos sessenta e oitos, teremos mais um ano conturbado. No filme Le pornographe (O pornógrafo, 2001) de Bertrand Bonello, os personagens acreditam que havia certo romantismo quando as pessoas iam às ruas em 68. A imaginação podia chegar ao poder. Os jovens recusavam a sociedade tal como era, os velhos símbolos, o trabalho. Hoje, protestamos pelo contrário: para trabalhar, ser reconhecido pela sociedade. É uma ironia terrível.
O filme não é sobre maio de 68. Jacques Laurent, interpretado pelo genial Jean-Pierre Léaud (Os Incompreendidos, Beijos Roubados, Noite Americana e mais uma caralhada), é um antigo diretor de filmes pornográficos dos anos 60 e 70. Por questões financeiras, retorna aos sets de filmagem e percebe, apesar de não compreender, como a indústria pornô mudou. Com problemas de relacionamento com seu filho, o velho pornógrafo ainda sustenta utopias bambas e parece não mais entender o mundo. O conflito de gerações é mais do que mero recurso dramático; é um comentário histórico. Então, de certa forma, o filme relaciona o nosso tempo com a velha geração de 1968? Bem, eu não vou me contradizer na frente de todo mundo.
A pornstar Ovidie também está no filme.
Fazendo o quê?
Você sabe.