abril 26, 2005

Decepção

budapeste01Alguns devem saber que eu nutro uma afeição (ok, paixão desvairada!) por teatro. Pois bem, isso começou quando eu devia ter em torno dos quinze anos. Foi quando fiz uma inesquecível viagem pra Nova York. Lá assisti a vários musicais, mas só um deles (o mais desconhecido por sinal) me marcou. Aida, uma história linda! Que para não causar expectativa àqueles que quiserem ver, não irei contar. Pois foi com ela (a expectativa!), que passei durante esses cinco anos sonhando que pudesse assistir qualquer outra montagem de Aida. E inacreditavelmente consegui.
Estava na Hungria, mais precisamente em Budapeste (onde há a maior concentração de antipáticos do mundo), quando, em meio a uma névoa formada pelos sete graus negativos, eu avisto um cartaz. Lá pairava Aida. Arrastei então minha adorável e compreensível irmã para o teatro. Antes disso, porém, cultivei nela a maior expectativa que um ser humano pode ter e, é claro, a fiz gastar sofridos euros para conseguir o melhor lugar.
Pronto! E estávamos nós coladas no palco. Para ver o espetáculo tínhamos que dar aquela leve deslizada na cadeira. As luzes se apagaram e não posso negar que meu coração deu uma acelerada.
Quando a cortina abre alguma coisa parece estar errado. Não foi preciso deslizar um centímetro sequer para perceber que o cenário tinha detalhes quebrados do adorável isopor que o compunha. Eis que surge no palco, aquilo que os húngaros denominam de ator, que na minha concepção não passava de um péssimo cantor de opera com expressões que nem mesmo beiravam a canastrice. Depois de ter absorvido isso, eu cheguei a brilhante conclusão de que ele era o mocinho da peça. Eu gostaria de dar uma prévia de como ele era fisicamente, mas não vou causar esse trauma em vocês. Acho que podem imaginar como era o resto do elenco. A protagonista até chegava à categoria de canastrão. E isso tudo em italiano... E com legenda em húngaro!
Vocês podem imaginar até onde eu escorreguei na cadeira, na hora do intervalo, para não precisar olhar a minha irmã. Quando ainda estava no breu, eu estava no meio da minha oração, quando comecei a acreditar que por sorte eu tinha desaparecido, a luz acendeu e minha irmã já estava com todas as palavras da bronca decoradas (pelo menos ela teve uma distração durante a peça).
Com uma paciência, que não lhe é característica, sugeriu que nos retirássemos do teatro. Nesse momento eu cometi mais um erro, talvez o pior: tive esperança que pudesse mudar. Ficamos. E depois dessa experiência fui escrava das vontades da minha irmã pro resto da viagem (quiçá da vida!) e com razão.
Mas calma! Se você ignorar o mal-humor, a ignorância, a impossibilidade de comunicação, o frio de matar e os péssimos atores; Budapeste é linda.
Texto desengavetado por Flavia B.

abril 24, 2005

Agora sim o Papa é Pop !!!

heavy_metalEle é chamado de “ homem do não “, ele é dito como conservador, nazista, perseguidor de progressistas, entre outros ilustres adjetivos, mas na realidade, ele é Joseph Ratzinger, ou Bento 16, ou Papa, ou o responsável pelo maior cargo da Igreja Católica Apostólica Romana. Depois de Ratzinger ser tudo isso, ele ainda é Pop. Sim, o Papa mais Pop. Isso porque entre suas crenças, o Papa é contra o Rock.
Recentemente, ele disse que o Rock é um “ contraculto oposto ao culto cristão”. Certamente, a tradução do Estadão não favorece, afinal, “contraculto oposto ao culto” é uma das redundâncias mais lindas que eu já li. Mas relevando o lado poeta do Papa, ele é da opinião que o Rock não é algo adequado para a Igreja e deve ser purificado por suas mensagens diabólicas. Agora o Papa-compositor, quer tirar a letra de uma melodia que não pertence...
Para Ratzinger, o rock tenta falsamente "liberar o Homem por meio de um fenômeno de massa, marcado pelo ritmo, o barulho e pelos efeitos de luz". Vamos esquecer do fenômeno de massa da Igreja para concordar com ele. O que seria de Pink Floyd sem barulho e efeitos de luz ? O que seria do Iron Maiden sem seu diabólico mascote Eddie ? O que seria do marketing do Marilyn Manson ? Desde sempre o Rock é conhecido pelo “ contra “ e suas mensagens subliminares.
Axl Rose já cantou “ Civil War” com Jesus estampado na camisa. Reza a lenda (?) , que se você tocar “Stairway to Heaven” do Led Zeppelin, ao contrário se escuta mensagens demoníacas... eu poderia encher essa página de exemplos, mas prefiro acabar esse texto com uma frase própria do mais novo Papa-Pop: "Quanta hipocrisia há na Igreja, quanta soberba, quanta auto-suficiência".
Será ? Let it be.

abril 22, 2005

A Última Enciclopédia

wikipediaEu achei a idéia fantástica. Uma enciclopédia livre e gratuita, feita a partir da colaboração dos próprios usuários. Essa é a Wikipédia, projeto criado por Jimmy Wales e Larry Sanger, em janeiro de 2001, que já tem sua versão em língua portuguesa. A mecânica de funcionamento é simples e cada leitor pode ser também um colaborador, acrescentando seus próprios verbetes ou alterando dados nos verbetes que já existem.
O Wikipédia trabalha a partir de um wiki, uma rede de páginas web que podem ser modificadas através de um navegador comum, como o Internet Explorer, por exemplo. Isso significa que, a todo momento, qualquer pessoa pode modificar qualquer conteúdo de uma página. O usuário pode, inclusive, ajudar no desenvolvimento do “software colaborativo” que é o suporte por trás dessa enciclopédia virtual.
Entre outros projetos de colaboração voluntária relacionados temos o Wikcionário, que um dia pode tornar-se o dicionário mais completo jamais escrito, o Wikiquote, uma coleção de citações de pessoas proeminentes, livros e provérbios, e o Wikinews, que pode transformar nossa concepção de jornalismo. Imagine uma página de notícias onde qualquer um pode escrever e alterar qualquer informação... Estarão as agências de notícias com os dias contatos? Ou será somente mais uma página de internet cheia de lixo e achismos? Eu acho que não.

abril 15, 2005

Rapto de Perséfone

persefone00

"Acabamos por amar nosso próprio desejo, em lugar do objeto desejado."


A frase é de Nietzsche e a imagem é uma das minhas preferidas. Um detalhe da escultura O rapto de Prosérpina, de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), arquiteto, pintor e escultor italiano, pioneiro da arte barroca.
Perséfone (Prosérpina ,em romano), filha de Deméter (Ceres), deusa do plantio e da colheita, com Zeus (Júpiter), que não precisa de apresentações, era uma jovem virgem devidamente resguardada por sua mãe superprotetora. Um dia, Hades (Plutão, sem trocadilhos), senhor do mundo dos mortos e dos infernos, em uma de suas passagens pela superfície avistou Perséfone, com uma saia justinha, colhendo ramos de trigo sozinha. A paixão foi avassaladora e nem Eros (Cupido), nem Afrodite (Vênus) tiveram nada a ver com isso... Agarrando-a pelos claros cabelos e puxando para dentro de sua carruagem negra, Hades rapta Perséfone para seu reino nas profundezas.persefone01
Sem sua filha, Deméter tornou-se estéril, bem como a terra sob sua influência, trazendo fome para os homens. Zeus ordenou que Hermes (Mercúrio), o boy dos deuses, tentasse convencer Hades a libertá-la. Surpeendentemente, Hades disse que poderia levá-la, se assim Perséfone desejasse. Mas todos sabem: amor de pica... Após ter comido os frutos da romãzeira ofertados por Hades, Perséfone transformou-se em mulher exuberante e madura e acabou apaixonado-se pelo Rei dos Mortos e por si própria. Zeus-panos-quentes decidiu que Perséfone não precisaria abandonar seu esposo, mas ficaria 9 meses com sua mãe na superfície, garantindo tempo suficiente para a florescência, maturação e colheita. Os três meses que passaria na putaria com seu marido lá num inferninho, nós, aqui em cima, passamos a chamar de inverno.
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abril 08, 2005

Seus problemas acabaram!!!

Uma crônica sobre como a felicidade pode ser trazida por acordes eletrônicos de músicas compostas não por compositores, mas por computadores. Não, isso não é uma coisa pessoal, pois a alegria que toma conta de uma pessoa que se deixa levar por esse estilo musical certamente contagia quem está à volta. É uma das amostras mais explícitas e concretas sobre a felicidade. Basta a música estourando nas caixas e pronto, pode-se fazer simplesmente o que quiser, já que a sensação é a de que o mundo é todo seu e basta um mísero esforço para satisfazer os seus anseios. Uma versão ultra-moderna e contemporânea do que os budistas classificam como o “nirvana”. É claro que existem outras maneiras de ser feliz, mas a música pulsante, eletrônica, e, acima de tudo, alegre, age como uma espécie de entorpecente, uma eficiente condutora de endorfina para todo o corpo humano que simplesmente não consegue ficar parado. Esta é a música que mais pode trazer felicidade instantânea, não deixando de lado, é claro, aquelas que trazem lembranças especiais, assim como as melodias que conseguem distribuir as notas de uma maneira emocionante, fazendo pulsar mais forte o coração de quem tem o prazer de ouvi-las. Não é a toa que as músicas de acordes eletrônicos são praticamente uma unanimidade nas academias, locais aonde se vai para obter a sensação de bem estar (e onde se costuma liberar a tal da endorfina à qual me referi logo acima). Na verdade, essa é a trilha sonora das pessoas que estão em busca da “men sana” e do “corpore sano” que tanto são desejados por absolutamente todos, conscientemente ou não. Muitas vezes funciona como terapia, para se esquecer as tristezas e as agonias, mesmo que seja pelo tempo único e exato em que as notas tecnologicamente harmonizadas atingem os tímpanos de quem as ouve. Um ótimo e eficiente estimulante, não só para os exaustos, mas para os descrentes, os deprimidos, e para os pessimistas. O poder dos computadores sobre a música também é capaz de realçar ainda mais o encanto que canções já tradicionalmente consagradas exercem. Não seria exagero dizer que, se por algum acaso, um dia Deus descesse sobre a Terra, melhor do que um canto gregoriano (sem querer tirar de forma alguma o mérito desse tipo de música) ou o oratório Messias, de Haendel (belíssima obra da música erudita), seriam incomparáveis, épicos e grandiosos acordes eletrônicos. Nada mais apropriado para uma suposta aparição de Vossa Onipotência nos dias contemporâneos. É o que de mais grandioso e poderoso (assim como Ele) está sendo feito no que diz respeito à música.

P.S.: é preciso dizer ao som de que tipo de música foi escrito este texto?

abril 06, 2005

Pensar em sexo tudo bem, só não pode ter um Papa negro

papa“- Se o Papa for negro, não tenha dúvida, é o fim do mundo.” Foi isso que minha avó me disse quando liguei pra ela ontem, logo após a confirmação do falecimento de João Paulo II. No primeiro momento fiquei apenas surpreso, porque imaginava ser mais uma afirmação subjetiva da cabeça de um idoso, foi quando ela me falou: “- É meu neto, isso é uma profecia, minha mãe já me falava muito sobre isso.” Desliguei o telefone e fiquei pensando nisso continuamente, como se alguma coisa realmente pudesse acontecer. Assistindo Jornal Nacional, vi um nigeriano que é forte candidato a sucessão. Porém, sem “papas” na língua posso falar que isso não se trata de preconceito. Pra demonstrar isso, vou torcer para um índio, nazista, gordo e torcedor do flamengo ser o próximo papa, mas o negro não! Eu me lembro muito bem do momento que antecedeu o suposto apocalipse. O ano 2000 se aproximava, igrejas universais, mundiais, patriarcais, e outras mais; vendiam terrenos no céu. As pessoas cantavam músicas com enredos sóbrios, que falavam da transitoriedade da vida e de como ela teria que ser aproveitada no seus últimos instantes, as putas com certeza lucraram muito nesses supostos últimos dias. É impressionante como o ser humano só pensa em sacanagem. Estão você e sua namorada(o) na floresta, vocês se perdem, ao invés de procurar alimento vocês ... transam! Ei! Espera aí! Eu tava falando do Papa Negro. Não posso confundir os meus pensamentos. Viu? Nós só pensamos nisso.

Texto desengavetados por Alex Mendes de Souza

abril 04, 2005

Cara, cadê o meu avô?

Morreu o Papa João Paulo II. O mais interessante dessa frase é notar que junto com Karol Woityla vai-se embora um termo único para metade do Planeta Terra que, por causa da pouca idade, se habituou a ligar um nome ao outro e a expressar: Papa João Paulo II. Vai ser muito estranho falar de um novo pontífice, seja qual for o nome que ele escolher para ser chamado durante a permanência no trono de São Pedro. Será difícil se acostumar a falar sobre o Papa João Paulo III, João XXIV, Leão, Pio, Pedro etc. A próxima geração não achará esquisito ouvir o nome do novo Papa, ou até mesmo assistir a uma rotineira troca de poder entre os cardeais. Mas para esta geração que hoje está na casa dos 20, os possíveis nomes do chefe de estado do Vaticano, principalmente o de João Paulo III, soam como se falássemos sobre as previsões para o século XXII, sobre a campanha da seleção para a conquista do “deca”, a ansiedade pelo nascimento de um neto (isso é estranho para quem tem 23 anos...)!!! A morte do líder supremo da Igreja Católica Romana, pela data e pelas circunstâncias em que ocorreu, representará de alguma forma, uma passagem de fase na vida de cada pessoa com menos de 27 anos. Queira ou não, o dia 2 de abril de 2005 ficará marcado para sempre na memória. Será um daqueles dias a ser lembrado daqui a 50 anos, por exemplo, em que se falará: “eu me lembro bem do dia em que o Papa João Paulo II morreu... parece que foi ontem... eu estava com............. no ............ fazendo .............” . O mais engraçado de tudo é que o Papa parecia ser uma espécie de avô que só podia ser visto pela televisão. Era íntimo de muitos. Isso só reforça o estranhamento que vai surgir quando um cardeal aparecer numa janela da Praça de São Pedro e falar ao microfone: “habemus Papa”. Então, a pergunta que vai surgir em várias mentes será: “mas esse aí não é o meu avô... cadê o meu avô?”

abril 02, 2005

Fla-Flu: Emoção de qualquer lado

Fla-Flu“O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada!” Quem foi que nunca ouviu essa célebre frase de Nélson Rodrigues quando se aproxima um clássico tão ímpar quanto esse? Talvez seja a frase que defina melhor todo o esplendor criado por esse que deve ser o embate mais charmoso, romântico e tradicional do futebol brasileiro.
Tradicional não como um Fluminense e Botafogo, ou “Clássico Vovô” como ele é conhecido, mas tradicional pela certeza de grandes espetáculos dentro e fora de campo. Só quem já teve o privilégio de assistir o jogo nas torcidas de ambas agremiações sabe que emoção e frustração são coisas muito próximas, que podem variar no ser humano em questão de segundos. É impressionante como apenas um chute, uma cabeçada ou até mesmo uma barrigada – pra felicidade dos tricolores – naquele pequeno objeto feito de fibras modernas, vendo-o morrer ali, no cantinho do gol do maior do mundo pode incendiar a paixão de milhares de pessoas ou dar um banho de água fria no mais empolgado fanático.
Shows de fogos, papel picado, balões, bandeiras, cornetas, bumbos e gritos dos mais criativos e variados levam qualquer torcedor, do time que seja, a se emocionar, sentir muitas vezes um calafrio ao ouvir a torcida do Flamengo entoar “ Oh meu Mengão, eu gosto de você...” ou então puxar aquele último grito já sufocado pelo calor e pela falta de ar, quando num momento de dificuldade, a torcida tricolor recorre aos céus pedindo “A benção, João de Deus...”
Dia de Fla-Flu deveria ser feriado nacional e ter transmissão de todos os canais em rede nacional, para que todos pudessem ter o privilégio de assistir à tal espetáculo. Digo até mais: deveria ser reservado um canal para cada torcida mostrar todo o show de cor e movimento que sempre proporcionam.
Faço uma aposta com qualquer pessoa ou ser desse universo todo. Quem for ao Maracanã em dia de Fla-Flu e não sair do estádio relembrando cada momento de festa de ambas torcidas, pode levar o que quiser de mim, porque terei nessa pessoa, a contradição de tudo que acredito, vi ou senti nesses meus anos de arquibancadas em diversos estádios. Não existe coisa igual. Podem me cobrar depois, mas tenho certeza que nesse fim de semana o Brasil terá as mais bonitas cenas do futebol brasileiro no ano todo.
Pedindo a licença poética à Nelson Rodrigues, o Fla-Flu só acabará 40 minutos depois do nada!
Texto desengavetado por Bernardo Eyng

abril 01, 2005

Insônia

Estava só. Talvez me sentisse humana. Mas não, desta vez me sentia só. Entretanto, uma solidão companheira, que me presenteava de reflexões.
Perguntas que não sei responder, e respostas que não quero perguntar. Na verdade, não sei de nada, sei que estava só. E somente só, pude perceber as inquietações que sobrevoam minha mente, a angústia que abraça o meu peito e a plena constatação de quem sou eu. Só eu. Só.