dezembro 29, 2006

“Que seja infinito enquanto dure”

Uma resposta a Bel Clark

Andei pensando...Vale a pena?
Vale a pena o rio de lágrimas que você chora hoje? Vale o nó na garganta, o buraco no peito? Vale? Me sinto na obrigação de tentar responder. Ao menos por uma identificação com a história e com o fim dela.
Sem a dor de agora, onde ficam os dias inesquecíveis, as noites inesquecíveis, o pôr do sol, o nascer do sol, o cinema, os jantares, os olhares, os toques... as lembranças? Se não vale a pena pela dor da separação, há de valer por cada momento catalogado na memória. A construção de uma história que não há choro que apague. Não há futuro que deixe de torná-la inesquecível.
Nem menos você, nem menos ele, mais os dois. Mais aquilo que consideram melhor, mais maturidade diante de uma decisão difícil. De um fim não por falta de amor, de admiração... fim pelo fim. Porque ele simplesmente chegou sem avisar, nem pedir licença. Desgaste? Convivência? Diferenças? Não importa como, mas ele atropelou aquilo que os unia. E de que vale o amor que sobra? Basta?
Basta parecer o casal perfeito sob olhares alheios? Basta a intimidade nítida no olhar? Basta o entrosamento? Basta a admiração? Basta o sexo? Basta a diversão juntos, com amigos dele, com os seus, com os de ambos? Basta o álbum de fotografias que construíram juntos? Bastam as viagens, os churrascos, os encontros de família?
Deveria bastar... e por que não basta? Não sei... sei que lá estava o fim, sem explicação, sem um dica sequer. Apenas olhando, acenando e mostrando a que veio. Chegou assim, de mansinho, a fim de fazer acordo. Deveria ser melhor assim, não é? Sem culpa, sem mágoa, sem falta de respeito... E por que dói? Dói pelo fracasso daquilo que tinha tudo para dar certo (e deu! Só não foi eterno). Dói não ter culpado, não ser vítima, não saber o que levou a isso.
E se a racionalidade me permite: não igual, mas outras histórias virão com tais quais momentos inesquecíveis e talvez ou não seguidos por dores maiores ou menores. Já que pela possibilidade do fim não vale a pena, há de valer pelo carinho, pelo respeito, pelo amor... que permanece em outra dosagem, em outra substância e sob o mesmo código.
Agora: (com ligeira grosseria) menos ele e mais nós! E nossas incontáveis conversas de bar sobre o que, de fato, vale a pena. O amor? E tem como evitar? Antes e pior que ele: a paixão. Tem como evitar?
Deixa para o próximo chopp, porque esse, com certeza, vale a pena.

===================================================================================
Texto desengavetado por Flavia Boabaid