Malefícios de Uma Noite Sem Cobertor
Acordo em uma sala branca.
E não são só as paredes, o teto e o chão que são brancos. Os móveis são brancos. O ar gelado que respiro é branco.
Um branco piano de cauda é tocado por um vulto no final da sala.
Caminho na direção do piano. Ele é mais comprido do que parece e a figura que o toca ainda está distante.
Aproximo-me mais.
Tem feições comuns o homem atrás do piano. Entretanto, ele é pálido, veste um fraque branco e seus cabelos são como o mármore. Quase reconhço a música que está tocando.
De repente, o homem pára de tocar e me encara. Um frio percorre minha espinha. O silêncio dá a sensação de que os sons que carrego na minha cabeça vão estourar meus ouvidos de dentro para fora e ocupar o lugar. O homem continua me fitando e até seu olhar é branco.
Enfim, diz:
"Está quase no fim."
Acordo, dessa vez de verdade, um pouco apavorado, um pouco aliviado.
Afinal, está quase no fim.