É Hoje!
Hoje vou falar sobre política. E olha que sou daqueles que costumam não gostar de política e nem se envolver. Mas, oras, isso também é uma atitude política. Pensando bem, um assunto tão extenso e tão estendido não deve ser abordado assim levianamente por um não-gostador de política como eu. Afinal, eu poderia misturar juros com sáude e severino. Pois bem, hoje vou falar sobre a loucura. O tema sempre me fascinou. O homem que poderia viver acima das regras sociais, que poderia, segundo Foucault, dizer o que não pode ser dito. Mas sempre que penso sobre loucura uma angústia me pisoteia o peito. Daí ouço o barulho ensurdecedor de um ônibus, um comercial, gente falando, música, ventilador. Penso no homem moderno, essa relíquia de museu. Isso! Vou falar sobre pós-modernidade. A permanente busca de inovação; a alucinada preservação dos direitos do autor. Hoje vou falar sobre a idéia de transgressão que não deixa nada mais ser construído, sobre fragmentos de pensamentos, que separam-se como num piscar de olhos, como a edição alucinada de um Cidade de Deus. Boa. Hoje vou falar sobre cinema. Mais especificamente sobre o trabalho de Bernardo “Último Tango em Paris” Bertolucci, aniversariante do dia. Foi BB, 65 anos, quem me apresentou Liv Tyler - que esteve muito melhor como ninfa em Beleza Roubada do que elfa em Senhor dos Anéis. Hoje vou falar sobre anéis. Saturno, ânus, bijuterias. Não. Vou falar sobre os dias da semana, mas acho que alguém já tratou disso. Hoje vou falar sobre o tempo, então; sobre os super-heróis da minha infância, sobre a vida ou sobre o esquecimento. Mas acho que vou acabar mesmo é não falando de nada.