fevereiro 22, 2005

A vida é uma caixa de surpresas...e de remédio

Agora um pouco de reflexão. Mas nada de coisas efêmeras e transcedentais para explicar a vida, por favor! Não tenho paciência para essas coisas. Fique tranqüilo(a), já que pelo menos tentarei ser mais prático do que muitos filósofos e pensadores (sem generalizar).
Às vezes a vida da gente parece uma mesmície, um marasmo só, não é mesmo? Vivendo dia após dia, não percebemos as mudanças que ocorrem à nossa volta a todo o momento, numa velocidade e intensidade impressionante. Só ao parar e pensar no passado, tanto recente quanto distante, nos damos conta de que muita coisa mudou. É difícil ter a real percepção de como tudo que compõe a nossa vida (os sentimentos, o corpo, as atividades, os hábitos, os pontos de vista) muda a todo instante. A não ser que se tenha um medidor para isso.
Eu acabei descobrindo o meu medidor: uma caixa de remédio homeopático receitada pela minha médica, mais precisamente os 60 papelotes que eu tive que tomar diariamente nos últimos dois meses. Não está entendendo? Leia os próximos parágrafos e acredito que as coisas ficarão mais claras.
Era início de dezembro quando tomei o primeiro papelote da caixa. A minha vida estava aparentemente normal. Nada havia me marcado nos últimos tempos para dizer que a minha rotina estava diferente, ao menos que eu tenha percebido. Conforme os dias se passavam eu tomava os remédios e a minha vida (como sempre) mudava. Era fim de ano, o verão chegava, várias festas para se ir (só onde trabalho, foram duas senhoras festas), especial do Roberto Carlos, natal, presentes, ano novo, comemorações... ok, depois de um reveillon, a sensação de que as coisas mudaram é comum a todos. Pulemos, portanto, essa parte.
Chegou um novo ano. E lá estava eu tomando meu remédio de todo dia. Pouco tempo havia se passado do turbilhão de acontecimentos do fim do ano e a vida continuou mudando. Lá se foi minha irmã para a Europa...do nada me tornei filho único, o, digamos, rei da casa. Legal!
Pouco tempo depois, num dia em que naturalmente tomei mais um papelote do remédio, minha mãe também se mandou para o "velho continente". A partir dali, estava sozinho em casa com o meu pai. Àquelas alturas, faltava pouco tempo para o carnaval. Mal podia esperar. Mas esperava...tomando meu remédio todo dia, é lógico.
E lá se iam os papelotes, cada um impresso com o número da dose e, ao mesmo tempo, o de dias que eu já havia tomado o remédio. Chegou o fim de semana anterior ao do carnaval e era hora de esquentar os tamborins, não sem antes esquecer de tomar a dose diária. Festas, blocos, jogo no Maracanã...eu estava num rítmo olímpico!!!
Mas acabou o fim de semana, chegou a segunda-feira e, nesse único dia, eu não tomei o remédio. Depois de toda a farra eu ainda fui trabalhar (trabalho de madrugada), mas não pude ficar exausto ao chegar em casa: meu pai teve um acidente vascular cerebral e minha vida saiu de uma suposta rotina para entrar num novo turbilhão (como se já não estivesse dentro dele). Tive que assumir responsabilidades, conviver com a maior preocupação que já tive, acalmar a minha irmã e a minha mãe viajantes (lembre-se que eu estava sozinho aqui), trabalhar, visitar meu pai na C.T.I., traduzir boletins médicos e, acima de tudo, manter a calma e a cabeça no lugar. Acho que consegui, tanto que dois dias depois, na quarta, voltei a tomar o meu remédio.
Passada uma semana disso tudo (preciso dizer que não houve carnaval no meu calendário?), ao pegar mais um papelote para tomar o remédio, reparei como as coisas mudaram desde que tomei a dose número 1. Parecia que a havia tomado num dia muuuuito distante...
Hoje, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005, vou tomar a dose número 58, vivendo uma vida bem diferente daquela do dia em que fui à farmácia com a receita para encomendar o remédio. Quantos acontecimentos...
Mas, como diz o ditado popular, nada como um dia após o outro. Afinal, essa é a graça da vida. Portanto, se prepare: a sua vida pode mudar a qualquer momento. Até mesmo...AGORA!

P.S.: a quem interessar possa, meu pai está bem melhor do que quando chegou ao hospital, já saiu da C.T.I. e está no quarto convalescendo.