Idéias subversivas como a de um novo refrigerante com sabor de tangerina
Hoje foi um daqueles dias em que acordei e percebi que não havia sonhado com nada. “E daí?”, você deve estar pensando; “Eu também quase nunca sonho...” Mas não é desse não-sonhar que estou falando. Explico: na maioria das vezes eu também não me recordo dos meus sonhos, mas sei que tive uma noite repleta deles. A sensação que tento descrever é diferente e meio paradoxal, mesmo – tanto que me fez começar esse texto com “hoje foi”, o que por si só já é contraditório o suficiente.
Acordei, abri os olhos de supetão e olhei para o branco do teto do meu quarto. E assim também estava minha cabeça, completamente vazia. Demorou ainda um pouco para pipocar aqueles pensamentos que uma cabeça vazia costuma ter. Porque quando não se sonha, quando acordamos com a cabeça tabula rasa, os pensamentos que brotam ao longo do dia são sempre muito intensos e perigosos. É como se Morfeu, para compensar o fato da ausência de sonhos na noite anterior, nos enfiasse pelos ouvidos pedaços de sonho em intervalos durante todo o dia. São os que os leigos chamam de insights e muito costumam ficar bem contentes quando os têm. O mundo hoje, o tempo todo, cultua boas idéias. E eu não entendo direito o por quê, se tanta idéia ruim dá certo.
Acho assustador a idéia de pessoas tendo boas idéias assim por aí. Onde o mundo vai parar? Tornar-se-á platoniano, talvez? Não quero fazer falso alarde. Nem deixar você, leitor, preocupado. Sim, meu caro, você pode ter uma boa idéia a qualquer momento. Mas não se preocupe! A maioria, ufa!, simplesmente deixa essas idéias subversivas prá lá. Num canto escuro de uma cabeça vazia.