março 10, 2005

Entre época que se escrevia e outra que se lê : Bula de remédio

Esse soneto se chama " EU", porém acredito que todos os sujeitos e pronomes já pretenderam expressá-lo. Portanto, partindo do princípio de que, algumas vezes, há pessoas que expressam melhor a nossa dor, gostaria de dividi-lo com vocês.


" Eu sou a que no mundo anda perdida,
eu sou a que na vida não tem norte,
sou a irmã do sonho, e desta sorte
sou a crucificada...a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
e que o destino amargo, triste e forte,
impele brutamente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a quem chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que alguém sonhou.
Alguém que veio ao mundo pra me ver
e que nunca me encontrou!"

(Florbela Espanca)

Florbela Espanca é uma das maiores poetisas da língua portuguesa e escreveu esse soneto em 1894. Engraçado, hoje, 2005... não consigo escrever nada e alivio minha dor com algumas gotinhas de Rivotril.