Juarez Machado: surrealista
Fuçando o site Releituras, esbarrei com os sonetos de Geir Campos. Mas eles não me disseram nada – ou bem pouco. A culpa, acredito, não é de Geir. Faz tempo que nem Vinícius me toca mais. E alguém já falou "é fácil gostar de Vinícius, difícil é gostar de Camões". O que me chamou a atenção mesmo foram as surrealices de Juarez Machado que ilustram os poemas. "Comunhão" e "Tempo Lavado e Passado" tem uma atmosfera que me faz lembrar em muito meu querido Magritte (1898-1967). As cores do céu, do quarto e a própria temática podem ser facilmente identificada como magritteana – se é que um absurdo de palavra como essa possa existir. Mas, pensando bem, esses dois artistas tem como principal afinidade o maior absurdo de todos: o inconsciente, território nebuloso e onírico onde o homem tão certo de si, tão seguro, não está mais no controle de suas razões.
Juarez, pintor, escultor e cartunista catarinense, vive desde 1978 em Paris, onde deve gozar a vida como um típico artista, de café em café, discutindo política e articulando pequenas revoluções estéticas. Ou, então, o clima parisiense faz bem à sua rinite - e só. Juarez ficou mais conhecido nacionalmente ao estrelar um quadro (curiosa ironia) de mímica no Fantástico, da TV Globo, onde também trabalhou como cenógrafo e figurinista. Entretanto, internacionalmente, Juarez é conhecido – e reconhecido – como o bem sucedido pintor de séries como Le Libertin e Copacabana, que transbordam sensualidade e apuro técnico.
Categorizá-lo como artista do nosense é esquecer-se das incursões pelo impressionismo que frequentemente realiza. Algumas de suas obras podem ser saboreadas (acho que elas tem gosto de calda de chocolate com uma pitada de licor de pêssego) através do site oficial http://www.jmachado.com/en/. Experimente!
Nas pinturas recentes, Juarez parece ter se afastado do seu lado nosense, mas um olhar absurdo do mundo não se perde assim de uma hora para outra. Basta olhar de perto, com atenção. De algum modo, alguma coisa ali, o clima rodopiante, os olhares, a música, alguma coisa ali não faz sentido. E, sim, isso é delicioso.
Mini-Galeria
Em tempo, já que falamos de surrealices, uma foto para lembrarmos de Jece Valadão, ex-cafajeste que tornou-se pastor evangélico desde 1995. Nosso homem do cinema estrelou filmes como Rio 40 Graus e Rio Zona Norte, de Nélson Pereira dos Santos, o emblemático Os Cafajestes , de Ruy Guerra, e o profético Idade da Terra, de Gláuber Rocha. Seu filme mais recente é um documentário dirigido por Joel Pizzini, O Evangelho Segundo Jece Valadão, que de programa de tevê pelo Canal Brasil pode chegar às telonas.
Qualquer novidade eu aviso, pode deixar.