Cinema Novo - Aquele que nunca envelhece
Cinema Novo : O Espelho Social
“O movimento tinha um objetivo econômico-político-cultural integrado. Esse projeto gera uma ideologia política através do produto que é feito, pois queríamos fazer filmes que tivessem como objetivo a realidade brasileira, dentro de uma perspectiva revolucionária (...)”
As palavras são de Glauber Rocha e sintetizam a idéia de que o Cinema Novo foi uma arte que teve, por um lado, a preocupação com a transformação e por outro, a garantia da liberdade entre as alternativas que essa arte poderia ter como meio de expressão.Arte essa de agitação e denúncia social que desempenhou um papel de reformulação cultural.
É o cinema que mostra na ficção a nossa realidade, funcionando como uma bandeira ideológica, que apresenta um fundo revolucionário. Já que esse tipo de filme é autoral e muitas vezes subjetivo, apresenta contribuições pessoais e psicológicas de cada cineasta que o realiza, podendo, assim, influenciar a platéia com seus ideais particulares. Portanto, são formadores de opinião com a tentativa de ser também um instrumento de conscientização.
Glauber Rocha afirmava que o cinema novo não tinha muitos pontos em comum com o cinema mundial, de cunho industrial e compromissado com a mentira e a exploração. O movimento brasileiro nasceu e desenvolvia-se na “política da fome”, e dela era indissociável.
Conseqüentemente, toda a estética do Cinema Novo foi criada e existia em função do compromisso com a realidade e com conscientização do povo a respeito de suas precariedades.
O Cinema Novo teve como alicerce o cinema independente ou cinema de autor, livre do modelo e do dinheiro impostos por Hollywood e marcado pela inspiração e pelo estilo do autor. Glauber Rocha, que fez da questão um ponto freqüente de questionamentos durante e mesmo depois do movimento, afirmava que o cinema de autor é a recusa da indústria, estúdio e linguagem convencional que afastavam o cinema da realidade, em visão muito próxima do neo-realismo.
O Cinema Novo foi uma necessidade de seus autores de expressar e investigar a realidade brasileira, como um efeito de catarse. Sem dúvida, foi importante por ser inovador e independente das algemas industriais, sendo assim, um cinema propriamente de autor. Cria-se então, uma proposta nova e original nas produções cinematográficas compromissada com a vida, com o real , desenvolvendo deste modo, uma descolonização da linguagem dos filmes e explorando os problemas sócio- econômicos do país nas telas.
Este novo tipo de cinema, um autêntico cinema brasileiro falava em nome do povo, ao contrário das chanchadas que falavam a língua do povo. Daí entende-se o porquê do sucesso das chanchadas e o não entendimento popular das obras do Cinema Novo.Contradição que se esconde atrás de suas propostas iniciais. Pelo desejo de se aproximar muito do povo, passa de um movimento popular para uma manifestação burguesa, pois acabou se tornando uma arte de difícil comunicação, limitando assim, o acesso popular.
Pelo estudo da história do Cinema Brasileiro, nos deparamos com obras que em sua maioria, demonstram interesse pelo cotidiano, miséria e pobreza. O Cinema é um espelho da realidade, então, para que haja mudança na arte é necessário uma reforma nacional social, econômica, política e cultural. Mudança essa que para os cinemanovistas deveria ser feita através da imagem revolucionária.
Posso concluir este ensaio com as palavras de Glauber Rocha que traz à vida essa incessante busca através desse espelho chamado cinema: “Arte revolucionária deve ser uma mágica capaz de enfeitiçar o Homem a tal ponto que ele não suporte mais viver nesta realidade absurda.”
Para saber mais sobre o Cinema Novo e simpatizantes:
- BERNARDET, Jean-Claude.” Cinema Brasileiro: propostas para uma história”. Rio de Janeiro. Paz e Terra.1979
- BERNARDET, Jean-Claude.”Brasil em tempo de Cinema”.3 ed. Paz e Terra.1978
- BERNARDET, Jean-Claude. “O que é Cinema”. São Paulo: Brasiliense,2000
- XAVIER, Ismail. “O Cinema Brasileiro Moderno”. São Paulo: Paz e Terra, 2001
- CAVALCANTI, Alberto: Filme e realidade. Rio de Janeiro, Artenova,1976
- RAMOS,José Mario Ortiz: Cinema, Estado e lutas culturais: anos 50,60,70. Rio de Janeiro, Paz e Terra,1983