Pensar, filosofar, ar
Tem dias que a gente simplesmente acordou pra filosofar. Falar de amor, de paixão, de dor, de ciúmes, de amizade, de alegrias, de poesia, de música, enfim... qualquer assunto trazido à tona é motivo de pensamentos os mais variados e viajantes.
Hoje eu acordei assim. E agora, às 4h52 da manhã, do alto da minha insônia escrevo essas palavras tão imprecisas, tão vazias perto de tudo que passa pela minha mente nesse momento. Uma vontade de gritar, de fazer loucuras, de sair pra andar no Arpoador, de encher a cara sozinha, de recitar palavras de amor, de ligar pra alguém, só pra bater papo, de chorar, de rir... nossa, falando assim pareço uma esquizofrênica!
Bom, brincadeiras à parte, obviamente que esses momentos de criatividade produtiva poderiam vir mais vezes, afinal, quem não gosta de se sentir extremamente pensante? È incrível, mas nessas horas a gente sente que pode refletir sobre tudo, que qualquer pensamento ou poesia fazem sentido, que tudo a nossa volta se encaixa... enfim, um milagre da natureza. Que Freud me explique.
Dentre tantas coisas, uma específica me vem perfurando as idéias, que é a de como é bom se sentir vivo. Ter vontades, desejos, inseguranças, medos, amores... como é bom ser complexo! Ouvir uma música e ver a poesia nela flutuar, ver uma foto e se emocionar, ser sugada pelos pensamentos como um pólen, ser soprada para as emoções como uma brasa.
Ah, agora me recordo o que causou tudo isso: hoje fui assistir a peça “Sonata de Outono”, das maravilhosas Marieta Severo e Andréa Beltrão. É simplesmente de ficar sem palavras. A humanidade, a ferocidade e a complexidade de um relacionamento mãe/filha são traduzidos de forma belíssima em 1h30-que-poderia-durar-3h. A vontade que dá é de fazer um filme do espetáculo assim que a peça acaba, para não serem perdidas passagens por causa da tal memória seletiva, ou digamos, sobrecarregada com tanta porcaria e estresse.
Chorei, claro. E bastante. Embora meu relacionamento com a minha mãe seja bom, há uma espécie de inconsciente coletivo naquelas frases, que são capazes de tocar até um cubo de gelo. Impressionante.
Não preciso dizer mais nada: assista, por favor. É um bem que você faz a si mesmo. Ao terminar a peça, discutindo com uma amiga minha, vi o quanto a arte é individual. Ela só pode te acrescentar algo se você a deixar, se você encará-la como algo a ser pensado, refletido. Do contrário, ela se desfaz, vira entretenimento gratuito. E daí a ida ao teatro terá se tornado apenas mais um programa de domingo. Portanto, pense, reflita, argumente, opine, morra e renasça por dentro, mas nunca, nunca, deixe a arte passar incólume.
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Texto desengavetado por BEL CLARK.