Auto-biografice I
Aos cinco anos de idade eu queria ser um Changeman. Aquilo que chamam de crescer, para mim, teve a ver com a descoberta de que eu jamais poderia me tornar um daqueles coloridos super-heróis japoneses. Que eu me lembre nunca quis ser bombeiro ou astronauta, como toda criança costuma querer em alguma fase de sua infância. Muito menos jogador de futebol. Isso porque o futebol não gostava de mim. E minha asma não gostava do futebol. Desde as terríveis aulas de Educação Física ficamos combinados de nunca mais nos encontrarmos.
Naquela idade infernal da pré-adolescência me apaixonei por teatro. Eu teria mesmo seguido essa carreira se um belo dia minha cabeça paranóica não começasse e me perguntar diabolicamente: "é do teatro que você gosta ou são somente as palmas que te atraem?" Pronto. Não poderia mais subir em um palco até estar convencido de que não era algo exclusivamente voltado para minha vaidade. Acabei me inscrevendo para Comunicação Social.
Gostava de livros, quadrinhos e filmes. Mais do que isso, eu admirava as diferentes mídias e suas formas distintas de se contar uma história. Era isso! Eu ganharia a vida contando histórias, bastava escolher uma maneira de contá-las. Seguir a carreira acadêmica, tornar-me professor – sem dúvida uma espécie de contador de histórias – ficaria para uma etapa posterior. A curto prazo, pensava em fazer carreira como jornalista, esse narrador do dia-a-dia. Tudo certo, tudo planejado, até que descobri o mundo dos editores de imagem. E todo o planejamento foi pelos ares.
A pergunta que mais me perturba hoje em dia é "o que você quer ser quando crescer?" Ainda bem que tenho tempo para responder. Para quem não sabe, ou ainda não percebeu, o período da adolescência nos dias de hoje dilatou-se de tal forma que só aos 50 anos chega-se à idade adulta. Até lá saberei o que fui.